22 de dez. de 2012

Aquele da maioridade

A maior depressão de estar (infelizmente) completando vinte um anos de idade é que agora eu oficialmente não faço mais parte daquele grupo privilegiado de pessoas que paga meia entrada nos cinemas e espetáculos teatrais apenas com o comprovante da idade.

Sorte a minha que ainda tenho mais um ano de faculdade. UM ANO APENAS ATÉ ME FORMAR. Mas e depois, o que eu faço? Forjo uma identidade falsa? Mestrado? Ou o pior: Dar o atestado de velhiche pagando o VALOR INTEIRO do ingresso?

Isso é a depressão batendo na minha porta.

12 de dez. de 2012

Aquele em que eu não uso mictório

Eu esperando impaciente no banheiro do shopping alguém disponibilizar o sanitário íntimo porque eu sou bicha fresca demais pra fazer xixi naqueles mictórios nojentos. Parecia até que o shopping inteiro tinha resolvido fazer cocô na mesma hora.

Quando um cara finalmente me resolve sair do vaso, eu recuo no mesmo instante em que eu ponho o primeiro pé dentro do compartimento íntimo.

"", exclamou meu namorado quando me viu voltando. "Não usou?"

"Não aguentei ficar lá, tava fedendo demais, você não tem noção."

Eu olho para o lado e o cara que tinha usado o banheiro antes estava lá parado, lavando as mãos, me olhando com cara de cu.

Sou muito desnecessário às vezes.

9 de dez. de 2012

Aquele da crise de idade


Voltando para casa, passei por duas criancinhas jogando bola.

"PEGA AÍ, TIO!", gritou uma delas, querendo passar a bola pra mim.

Como assim TIO? Tio meu cu! Não faz nem um ano que eu entrei na casa dos vinte e essa galera jovem da Geração Glee já tá querendo me chamar de tio? Os aluninhos eu até aceito, mas fora do trabalho? Não, não dá.

Crise de idade define.

8 de dez. de 2012

Aquele d'A Gafe

Ontem estava trabalhando aplicando um exame de proficiência para falantes de inglês pré-adolescentes e pela primeira vez em três anos aplicando prova eu vi uma criança chorando.

Vamos chamar o garotinho de Luiz Gustavo. Então Luiz Gustavo tinha dez aninhos de idade. Papai o levou até a sala de espera e lhe desejou boa sorte. Dois minutos depois ele retorna com o celular em mãos, dizendo que a mãe do garoto tinha ligado para desejar boa sorte.

Pronto. Luiz Gustavo desabou em lágrimas.

Eu me senti dentro de um filme dramático sobre uma criancinha que vivia longe da mãe. A gente não ficou sabendo das fofocas da família do menino, mas o meu palpite era que ele não morava com a mãe ou ela tinha viajado pra bem longe. Mas isso não importa.

Não tardou até eu ver todos os supervisores fazendo força pra não chorar junto.

Terminada a ligação Luiz Gustavo foi lavar o rosto e lhe trouxemos um copinho com água e açúcar para ele se acalmar. Quando eu pensei que fosse o fim da dramalheira uma das fiscais mais velhas começou a tentar conversar com garoto numa tentativa de deixá-lo mais calmo.

E foi então que ela cometeu A Gafe.

"Você é filho único ou tem algum irmão?"

"Eu tinha uma irmã... mas ela morreu."

Podia ter ficado calada.

24 de nov. de 2012

Aquele do show de barzinho

Ontem eu fui dar uma olhada brevíssima no 50º Festival Vila-Lobos num barzinho do centro do Rio, onde no dia aconteceu uma reunião de músicos para uma apresentação instrumental com gaita, teclado, bateria e saxofone.

Eu gosto bastante de música, mas a verdade é que eu não tenho o costume de frequentar show de barzinho, então eu cheguei lá esperando por qualquer coisa. Qualquer coisa. O frontman da banda, Gabriel Crossi, podia mandar tocarem um heavy metal pesadíssimo e começar a acompanhar a melodia com a gaita, balançando a cabeça pra frente e para trás num ângulo de quarenta e cinco graus que eu nem iria estranhar. E talvez acho que assim eu me surpreenderia mais.

Eu bem consegui apreciar o trabalho e o talento dos compositores, eles eram muito bons, nem discuto isso. Realmente me envolveram com a melodia da primeira música. Mas vou falar que depois da terceira música eu já estava achando que tinha alguma coisa de errada com os meus ouvidos porque pra mim a melodia continuava a mesma.

Dei graças a Zeus que tinha escolhido me sentar numa mesa próxima à parede. No meio de duas horas de show eu já estava com a cabeça recostada repondo sono atrasado. Talvez seja até por isso que no final da apresentação um dos produtores veio me perguntar o que eu tinha achado. Até receei um pouco quando fui dar a resposta.

Mas o diálogo foi mais ou menos assim:

"E aí, gostou?", ele perguntou.

"Não."

23 de nov. de 2012

Aquele do alívio

Eu estava lá, cuidando da minha própria vida, prestes a sair da estação de metrô quando um negão enorme com o dobro do meu tamanho cruzou o meu caminho.

"E aí, você topa tudo?", ele perguntou.

Não que eu tope tudo, porque a verdade é que ninguém realmente topa tudo, mas história vai, história vem e quando eu me dei conta eu já estava dentro de um quarto de hotel com um negão que não se assemelhava nem um pouco com o meu namorado.

"Você tem camisinha?", perguntei.

"Tenho."

Acho que todo mundo que está ou esteve num relacionamento sério pensa ou já pensou naquela possibilidade de traição. Eu sempre acreditei que a minha estivesse numa relação de uma por um milhão, mas pelo menos eu usei camisinha. Eu podia até estar certo sobre essa questão da probabilidade, eu só tive a má sorte dela cruzar o meu caminho.

E a convivência com a culpa? Conto ou não conto? Eu não sei como as outras pessoas conseguem, mas conviver com a culpa é uma coisa com a qual eu definitivamente não sei lidar. Se você não quer pagar a pena, não cometa o crime. Não é isso que dizem?

Não tem como eu descrever o alívio que eu senti quando eu acordei daquele pesadelo e não precisei mais tomar a decisão. Meio que me faz pensar que a probabilidade caiu para zero. Se em sonho a situação era tão angustiante, imagina em carne e osso?

11 de nov. de 2012

Aquele em que meus pais brigam

Fui até a cozinha pegar uma maçã na geladeira e não demorou muito até eles começarem:

"MULHER, JÁ FALEI PRA VOCÊ TIRAR O FIO DO CELULAR DA TOMADA SEM PUXAR!"

"EU TIRO DO JEITO QUE EU QUISER, O CELULAR É MEU!"

"E QUANDO ESTRAGAR QUEM É QUE VAI PAGAR?"

"EU QUE VOU PAGAR!"

"HAHAHA VOCÊ VAI PAGAR? COM O DINHEIRO DE QUEM?"

"COM O MEU DINHEIRO! VOCÊ ACHA O QUÊ? QUE EU TRABALHO PRA VOCÊ DE GRAÇA? QUE EU DEIXO A CASA LIMPA, FAÇO COMIDA TODO DIA, DOU UMA FODIDINHA COM VOCÊ, SÓ DE VEZ EM QUANDO NÉ, TUDO DE GRAÇA?"

"Com licença" eu disse, e me retirei.

Eu sou daqueles que acredita que eu não sou obrigado a saber que meus pais ainda fazem sexo. O mundo seria um lugar melhor de se viver se todos os pais se esforçassem para fazer os filhos acreditarem que eles fizeram sexo somente e exclusivamente para concebê-los.

É o que eu acho.

10 de nov. de 2012

Aquele em que o serviço da Oi não presta

Meu namorado (o culpado) tentou me arrastar para a última parada gay de Madureira, que aconteceu nesse último final de semana, e como consequência da minha catastrófica decisão de aceitar ser arrastado eu tive o meu celular roubado por um desses mãos-leves que enfiam a mão no seu bolso sem você sentir e levam qualquer coisa que esteja enfiada dentro.

Não vou contar os detalhes da história porque uma pessoa bêbada que acabou de perder um celular que absolutamente adorava, no meio da parada gay, não é uma coisa nada bonita. Eu só vou dizer que, como qualquer outra pessoa normal, liguei para a minha operadora, no caso a Oi, pedindo para que bloqueassem meu número, de forma que eu conseguisse resgatá-lo posteriormente.

Não só a Oi erroneamente cancelou a minha conta como ficou me enrolando por UMA semana me mandando ir de loja em loja para tentar resolver um problema que, no fim, eu descobri ser impossível de resolver.

A verdade é que ninguém que trabalha na Oi sabe resolver alguma coisa. E eu vou dizer o por quê. Na primeira loja que eu fui me disseram:

"Esse número não está no seu nome, senhor. Para resolver esse problema só ligando para o atendimento da Oi."

Eu liguei.

"O senhor ainda pode recuperar o número, mas tem que ir numa loja da Oi para conseguir o chip e o número no seu nome."

Eu fui em outra loja.

"Ah, a gente não resolve isso aqui, não. Você tem que ir numa das lojas da 'Oi Atende'. Aqui é loja normal."

OK, eu fui numa maldita Oi Atende.

"Acho complicado resgatar o seu número, senhor, mas você pode tentar ir na loja fixa da Oi, talvez lá eles possam te ajudar..."

Minha reação:


ARE YOU KIDDING ME?


Estão entendendo a situação? A minha vontade era de mandar a última atendente com quem falei, aquela vagabunda, pro inferno, e mandar ela levar junto aquele megahair medonho dela. É nessas horas que é uma pena ter educação porque, olha, vontade não me faltou de rodar a baiana e descer o cacete em alguém.

Mas uma coisa eu digo. Eu nunca mais PISO numa parada gay.

Ou talvez a coisa mais sábia a se fazer seria não pisar mais é em Madureira.

30 de out. de 2012

Aquele da menina que não canta nada

Fomos mamãe e eu para uma festa da parte evangélica da família do meu pai em que um dos meus primos iria cantar num recital. Quando chegou a vez dele cantar, subiu uma garota com ele no palco e eles acabaram cantando um dueto.

Até aí tudo bem.

Chegando quase no final da festa, já estávamos de saco cheio e queríamos mais era dar o fora dali. Como a educação manda, fomos lá mamãe e eu nos despedirmos e darmos os parabéns ao meu primo cantor. Ele estava sentado junto com a mãe, irmã e um grupinho de agregados, provavelmente da igreja deles.

"Nossa, mas você arrasou!", começou minha mãe, toda empolgada. "Você tem um vozerão, cara! Sério! Me impressionei, eu sabia que você sabia cantar, mas não que era tão bom assim. Você só podia ter cantado solo, né, porque aquela menina que cantou com você, ó. Vou dizer. Muito ruim, canta nada! Na-da! Afinal, quem é aquela garota?"

"Era eu.", disse uma das meninas que estavam no grupinho.

Eu olhei pra mamãe, mamãe olhou pra mim. Pedimos licença e nos retiramos.

"Que vexame, mãe."

"Cala a boca e anda rápido."

29 de out. de 2012

Aquele das vagens

Não é exatamente um segredo que um dos maiores desejos do meu pai é ver meu namorado morto. Um ano e meio já se passou depois do fatídico dia em que todas as esperanças de papai de me ver casado com alguma Sra. Seios se desvaneceram em pó. Os limites dos segredinhos já haviam extrapolado e eu tive que desenhar explicadinho para ele entender que o amiguinho com quem eu passava tanto tempo junto era na verdade meu namorado.

Esses dias enquanto mofávamos em casa, nesse calor infernal do Rio de Janeiro, decidimos cozinhar vagens para a salada do jantar. Como meu namorado não sabe preparar as vagens do jeitinho que minha mãe costuma fazer, eu pedi delicadamente para ele ligar pra minha casa e perguntar para ela. Afinal, meu pai trabalhava o dia todo fora e a Sra. Minha Mãe, diferente dele, não havia me proibido de mencionar o nome do bofe em sua presença.

E então ele ligou.

"Alô?", ele disse depois de discar o número. "Dona Madalena? É o Anderson, namorado do Alison, tudo bem? ..... Ué. Ela desligou na minha cara."

Não deu nem um minuto e meu pai ligou para o meu celular, puto da vida, dando sermão sobre como ele não precisa que eu esfregue na cara dele os detalhes do meu "estilo de vida".

Mas que culpa eu tenho se ele saiu cedo do trabalho e acabou atendendo o telefone?

12 de out. de 2012

Aquele de quando eu era criança


Acho um absurdo o que a natureza faz com a gente durante o crescimento, algumas coisas chega a ser até injusto. Quando bem criancinha mesmo eu era totalmente diferente, quase irreconhecível. Branco, gordinho-gostoso, os cabelos pretíssimos e lisíssimos. Hoje eu sou magrelo, negro, com os cabelos mais crespos que bucha-vegetal. Eu costumo acreditar, inclusive, que minha família devia achar que algum erro do hospital levou a trazerem a criança errada pra casa.

Tem gente que nem acredita que o bebê da foto um dia fui eu, mas olhando bem, há dois fatos incostestáveis: Minhas orelhinhas pontudas e o narizinho de batata.

O destino podia ter pelo menos me deixado com o cabelo liso, cuidar do afro todas as manhãs dá um trabalho do cão.

7 de out. de 2012

Aquele do título eleitoral

Todo ano eu perco o título de eleitor e fico a véspera inteira do dia da votação procurando a droga do documento pra não perder o dia. Esse ano não foi diferente.

Há algumas semanas atrás minha tia havia pedido meu título pra ganhar propina de um candidato a vereador e inventei uma mentira deslavada que tinha perdido meu documento. Vender voto não é comigo, muito menos deixar alguém TIRAR XEROX do meu documento (porque era pra isso que ela queria) pra receber vinte reais de um vereador vagabundo que nem primeiro ensino completo tem.

"Já achou o título, filho?", peguntava minha tia inúmeras vezes.

"Não, tia, tô procurando ainda."

Então ontem eu fui abrir a caixinha onde eu acreditava ter deixado o título e Que surpresa!, não estava lá. Parecia castigo divino. Nunca mintam, crianças. Mentir gera karma negativo.

E assim foi o meu sábado antes votação: Vasculhar meu quarto INTEIRO, bagunçar ainda mais minha já então bagunçada estante procurando um mísero pedaço de papel enquanto meu pai lindo berrava constantemente no meu ouvido palavras de apoio como o quanto eu era irresponsável, o quanto ele não acreditava que todo ano de votação o mesmo drama acontecia e que eu ia ter que enfrentar fila para re-fazer um título de eleitor pela terceira vez.

Pois bem, o dia passou e eu não encontrei meu título de eleitor. Acordei hoje de manhã cedinho de novo pra dar mais uma olhada na esperança de que algum buraco tenha passado batido e o infeliz documento estivesse por lá. Eu passo pelo quarto dos meus pais e observo a estranha situação de meu pai vasculhando uma de suas gavetas. Já estranhei.

Dois minutos depois, enquanto eu arrancava meus cabelos, meu pai vem me entregar meu título. Ele tinha guardado, olha que fofo. Ele tinha guardado meu título para me poupar do para sempre drama da minha vida de perder meus documentos quando eu preciso deles.

Minha vontade foi de esganar.

6 de out. de 2012

Aquele em que eu amo todo mundo

Eu só queria dizer que embora digam o contrário, a verdade é que eu não odeio as pessoas. Eu amo todo mundo.

Comentaram comigo esses dias:

"Eu queria muito saber por que você odeia tanto o Cicrano."

"Mas eu não odeio Cricano! Nunca disse isso."

"Sei."

"Eu só quero é que Cricano exploda e morra. Isso não é odiar."

29 de set. de 2012

Aquele em que a Hebe morre

Então a Hebe morreu e tá todo mundo no twitter falando disso. O Brasil agora está sem a sua Gracinha. Até eu, inclusive, soltei meus comentários. Não deu cinco minutos e já começaram os murmúrios da galera dando altas palestras sobre como somos todos patéticos por começarmos a amar a Hebe só agora depois que ela morreu.

Gente. Shame on you.

Hebe foi uma figura da TV brasileira por décadas e mais décadas. Não existe UMA pessoa nesse Brasil imenso que não conheça sua personagem. Eu não preciso ter um pôster da Hebe no meu quarto e dedicar um blog a ela para ter aquele respeito tão especial pela grande mulher e figura que ela foi para a mídia popular brasileira.

Agora o que me entristece é que eu nunca vou poder dar um selinho na boca mumificada dela. Eu sei que dificilmente isso seria possível mesmo quando ela ainda tinha o coração batendo naquele ritmo devagar-quase-parando, mas eu gostava de ter a opção da possibilidade remota.

Descanse em paz Hebe

19 de set. de 2012

Aquele em que eu canto Adele

Passei o final de semana inteiro ouvindo e cantando Adele aos berros na casa do meu namorado, que estava trabalhando o final de semana inteiro e seus vizinhos pareciam ter tomado chá de sumiço. Infelizmente, ninguém estava presente para ter o privilégio de ouvir o encanto de minhas magníficas cordas vocais em todo o seu esplendor. Mas eu insisti.

Hoje eu estou rouco como nunca estive antes.

Deixar Chasing Pavements no repeat mode talvez não tenha sido a melhor ideia que eu tive, afinal.

E eu estou aqui falando das minhas magníficas cordas vocais porque eu precisava mesmo escrever alguma coisa e não tinha nada melhor pra contar.

Fim da história de hoje.

P.S.: Hoje eu descobri como deve ser o inferno. A temperatura chegou a qual ponto nesse estado deplorável? Cinquenta? Frente fria cadê.

16 de set. de 2012

Aquele do gel lubrificante


Pedrinho e Ângelo já namoravam há um ano e meio e tinham uma vida sexual bem ativa. Uma vez depois de saírem pra jantar, voltando pra casa, Ângelo cismou em parar na farmácia da rua da casa dele para comprar lubrificante.

"Gel lubrificante", Ângelo pediu para a atendente.

"Só pedir ali no balcão", respondeu ela, dando uma risadinha pra Pedrinho, que fingia ter entrado sozinho e olhava os produtos da farmácia com grande interesse, como se estivesse procurando alguma coisa.

"Pedrinho!", chamou Ângelo em voz alta. "Você prefere com esse ou com esse?"

Farmácia inteira para pra prestar atenção em Ângelo segurando os dois tubos de lubrificante de marcas diferentes.

Existe vergonha maior?

Pode acontecer com qualquer um. Aconteceu com um amigo meu.

10 de set. de 2012

Aquele do incêndio na Faculdade de Letras

Quatro meses de greve a UFRJ se mateve. Pelo o que li, foi a maior greve da minha faculdade dos últimos dez anos.

No primeiro dia de reposição das aulas, a minha faculdade pega fogo. No caso, hoje.

Lady GaGa do toque do celular me acordou às nove horas da madrugada.

"ALÔ AMIGO, ONDE VOCÊ TÁ?"

"Eu? Eu tô na minha cama!"

"A LETRAS TÁ PEGANDO FOGO!"

Incrível como uma notícia dessas faz a gente acordar rapidinho.

8 de set. de 2012

Aquele do KitKat

Eu invejo com a minha alma essas pessoas que conseguem ir no supermercado e comer coisa de graça sem se preocupar em ser pego com a boca na botija e apodrecer na cadeia que nem aquela mulher pobre que virou notícia depois de ser presa por roubar um pote de manteiga Qually porque tava com fome e não queria comer pão seco. Invejo mesmo, porque eu-não-consigo.

É muito raro eu ir no supermercado e comprar mais de vinte itens então geralmente eu entro na fila de vinte itens para menos, onde a gente encontra um monte daquelas guloseimas, doces, petiscos, essas coisas que a gente compra só pra ter algo para mastigar na boca. Então eu estava no supermercado e enquanto eu espero na fila o que eu mais via eram pacotes abertos, coisas mordidas, comidas pela metade, sacos vazios. Embasbaquei-me. Quanto de dinheiro o mercado não deve perder só com essas coisinhas que o brasileiro "petisca" na fila do supermercado sem pagar?

Era a oportunidade perfeita para aplicar o golpe. Escolhi pegar um KitKat porque o absurdo do meu namorado, que estava comigo na hora, nunca tinha provado e aquilo não podia ficar assim.

Peguei o KitKat, abri, comemos apenas metade e eu coloquei de volta no lugar. No segundo seguinte eu estava assim:

"Ai meu Deus, será que alguém me viu? Mas e se me barrarem na saída? Aquilo ali é uma camera? É uma camera, não é? Tão filmando tudo! Me gravaram comendo o chocolate sem pagar, o que a gente faz agora? Se eu for preso você vai junto, o que eu vou dizer pros meus pais? Meu Deus, tem uma segurança vindo na nossa direção, ela vai me pegar em flagrante. Me dá esse KitKat aqui, me dá esse KitKat agora, eu vou pagar por isso."

Eu paguei pelo KitKat.
Saí de consciência limpa.

31 de ago. de 2012

Aquele em que a greve acaba

Todo mundo se desespera. UFRJ anunciou o fim da greve dos funcionários depois do histórico episódio de três meses de pausa das atividades. Quer dizer, estudantes estão loucos. Todo mundo tomando no cu lindamente. Ando lendo por aí sobre a galere precisando terminar trabalhos solicitados, ler um monte de coisa e não sei o quê.

Eu mal lembro as matérias que eu estava cursando na época!

Gente. Eu fiquei internado por um mês (ONE FUCKING MONTH) antes da greve começar. Eu não estou três meses sem atividades, eu estou há quatro meses. Eu nem sei os trabalhos que eu deveria ter feito durante esse tempo, quem dirá livros, artigos. Sei de nada.

Agora tá todo mundo tendo ataque de drag queen pelo fim da greve (que aliás, basicamente não nos trouxe benefício algum, do contrário não teria um monte de faculdade federal mantendo a dignidade da greve lindamente), mas eu só gostaria de dizer uma coisa: Eu tomei no cu mais que todo mundo.

28 de ago. de 2012

Aquele da ereção indesejada

Uma coisa que as mulheres nunca vão entender plenamente é o problema da ereção indesejada. Às vezes você está na rua, os passarinhos estão cantando, o sol está brilhando lá no alto e de repente NUMA FRAÇÃO DE SEGUNDO uma imagem passa ligeira na sua cabeça e pronto.

Eu por exemplo, andar de ônibus sozinho é um problema sério. Eu não sei o que acontece, talvez seja aquela sensação íntima e contínua de treme-treme que o veículo desperta, ou talvez seja psicológico mesmo. Auto-envergonhamento, sabe. Só sei que o episódio aconteceu mais vezes do que eu sou capaz de contar com os dedos das mãos e dos pés. Pouco falta para levantar do assento e descer do ônibus quando algo acontece e eu penso em... sexo.


E isso é um problema porque, bem, eu geralmente uso calças apertadíssimas. Daí o que fazer, né. Apelamos para aquele mantra desesperado de elementos não sexuais:

"Vovó. Vovó. Vovó. Vovó. Vovó. Vóvó."

Até agora tem dado certo.

18 de ago. de 2012

Aquele do truque do leilão

Então esses dias eu descobri que eu sou a pessoa mais lesada desse pequeno universo em que habitamos e portanto estou me obrigando a dividir essa história estúpida com o resto do mundo como punição, para eu aceitar que tudo bem fazer algo que ponha em dúvida a minha capacidade de ter conseguido tirar a vaga de centenas de pessoas na universidade pública.

Eu estava dando uma passada básica no eBay vendo algumas camisetas e por acaso me apaixonei por uma camiseta vintage raríssima da Caffeine com estampa de caveira que estava dando sopa no preço. O leilão iria acabar em pouquíssimas horas e só havia recebido um insignificante lance. Como o leilão terminaria apenas às altas horas da madrugada eu me mantive acordado a noite toda assistindo Friends e fiz meu lindo e prestativo namorado me ligar meia hora antes do fim do leilão, caso eu pegasse no sono.

Não havia ninguém disputando a camisa aquele horário. Ela custava 24 dólares, e com a minha vasta experiência em leilões na internet eu esperei até o último minuto para dar o meu lance.

Bem. O único lance que camisa havia recebido foi de 25 dólares. Então o certo era dar um lance de no mínimo 25.50 dólares.

Não foi o que eu fiz.

Acredite quem quiser, mas eu esperei a noite inteira até faltar um minuto para digitar o valor errado e repetido de 25 dólares. Quando eu vi a burrice que eu tinha feito, o feeling do momento Run, run for your life não foi o suficiente para eu dar o lance certo de 26 dólares e eu perdi um leilão pra alguém que tinha dado lance TRINTA E SETE horas antes de mim.

Ser mais lesado.
Tem como?

9 de ago. de 2012

Aquele dos colombianos

Quando se trabalha com produção de eventos uma hora você acaba aceitando que merdas acontecem o tempo todo, vão continuar acontecendo sem parar e você vai ter que dar o seu jeito de resolvê-las de alguma forma. Ainda mais em evento grande, que é sinônimo de muita gente envolvida, que quer dizer nada mais do que muita gente fazendo merda.

Uma vez eu tinha separado uma dúzia de brindes promocionais, tudo destinado a gente muitíssimo importante, e no meio da correria um casal de colombianos, cujo trabalho estava envolvido no evento, veio me pedir ajuda. Eu devo ter ficado acredito que uma hora só atendendo eles e acabei confundindo duas sacolas, daqueles brindes que já estavam separados, e entreguei aos dois. Tinha que ver, eles ficaram tão felizes que acabaram me dando um presente do trabalho deles.

"Alison, tá faltando duas sacolas aqui. Você sabe onde estão?" vieram me perguntar uns minutos depois.

Só então caiu a ficha da besteira absurda que eu tinha feito.

Agora e pra pegar as sacolas de volta depois deles terem disparado elogios do meu atendimento e terem até me dado um presentinho como forma de agradecimento? A minha sorte foi que a dupla ainda estava no mesmo andar da sala de produção e eu tinha pelo menos como ir até eles pedir as coisas de volta. Se não, me faziam de picadinho e serviam no buffet de encerramento.

"Mil desculpas, mas sem querer acabei dando essas bolsas pra vocês e vou precisar delas de volta." eu falei, morrendo de vergonha.

"Como assim?"

"É que elas já estavam reservadas para outras pessoas."

"Ah, mas. A gente não ganha bolsa?"

"Então. Não."

Foi um dos maiores constrangimentos que eu passei na minha vida.

Mas pelo menos não pediram o presente de volta.

31 de jul. de 2012

Aquele do cu do mundo

Engraçado como às vezes eu sinto que não estou na capital. Deviam considerar o bairro daqui outra cidade, porque olha, difícil fazer qualquer coisa nesse lugar. Altas horas da noite, namorado e eu, os dois na bobeira doidos pra pedir um serviço de quarto porque não tinha nada além de salada pra comer em casa, salada esta que eu acabei preparando com tudo de possível que vi na frente e não deixei restar nem migalhas. O gás tinha acabado de acabar e o nosso microondas, que devia estar aqui do meu ladinho correspondendo às minhas necessidades, está a quilômetros de distância de mim já que meu namorado lindo não toma vergonha na cara pra ir buscar.

Sem brincadeira. Ligamos pra tudo quanto é canto. Ligamos para entregas de comida chinesa, sanduíches, provavelmente umas vinte pizzarias. Incrível. Ou o nosso bairro, olha que lindo, estava FORA DA ROTA da empresa, significando que eles não entregavam aqui nem se pagássemos A MAIS, ou não traziam a maquininha do cartão de crédito.

Bem, o caixa eletrônico 24 horas da farmácia da rua debaixo estava fechado (deviam mudar o nome desses caixas). Que culpa EU tenho de só ter três reais na carteira? Nenhuma. E na verdade eu acho até que o problema do cartão de crédito aconteceu só com cinco por cento dessas tentativas, os outros 95% eram de estabelecimentos que se recusavam a vir até Pavuna.

Cu do mundo esse lugar.

27 de jul. de 2012

Aquele do Anima Mundi 2012

Esse ano eu tive a sorte de trabalhar na temporada carioca do festival Anima Mundi que, pra quem não conhece, comentam ser o terceiro ou segundo maior festival de animação do mundo inteiro. Uma loucura.

Passei praticamente duas semanas sem comer, dormir ou cagar direito, quem dirá ter tempo pra sentar e blogar pra aliviar a tensão da mente. Pra quem entende a expressão "Se eu não escrever, eu piro" deve ter uma noção do que foi a minha vida. Eu pirei. Sem brincadeira, durante o festival inteiro minha vida foi acordar às sete da manhã e chegar em casa quase meia noite, todos os dias. O pouco tempo que me restava eu guardava pra comer alguma coisinha pra aliviar o buraco que eu formava no estômago por não comer direito e, só então, desmaiar linda em cima da minha cama.

Acho que de todos os (dois) trabalhos que tive em minha vida toda, nenhum deles se comparou à pressão de trabalhar na produção do Anima Mundi, mas valeu a pena. Conheci muita gente nova, aprendi um monte de coisa e tive a experiência magnífica de poder falar com um monte de gringo, um mais simpático que o outro.

Me tiraram do cu do mundo no meio de uma crise.

"Pensou, resolveu. É essa a tática. O trabalho aqui é feito na pressão, você vai precisar atender todo mundo que apareça aqui, maioria gente importante. São artistas, diretores, produtores. Alguns são legais, alguns são muito chatos. Mas você é obrigado a ser simpático com todo mundo. A última menina que estava no seu lugar não aguentou a pressão, começou a chorar e pediu pra sair. Eu preciso saber se você topa. Você topa?"

Eu topei.

27 de jun. de 2012

Aquele da infantilidade

Lá estava eu, sentado, lendo um livro qualquer na sala de espera do consultório do meu clínico geral, aguardando para ser atendido. Eu e uma menina, aparentemente da mesma idade que eu ou talvez um pouco mais velha, estávamos mofando naquele consultório há  intermináveis três horas quando eu resolvi fazer um lanchinho de glicose. Comprei um pacotinho daqueles biscoitos em forma de canudinho, recheado com chocolate e fui ignorar minha taxa elevada de açúcar no sangue em paz.

Eu mal tinha acabado de terminar meu pacotinho quando a vagabunda se levanta e, de todas as opções disponíveis, comprou o mesmíssimo biscoito que eu. Fitei incrédulo a maldita.

Naquela hora, em algum lugar das entranhas da minha alma uma necessidade perturbadora de olhar para a garota com todo o desprezo que eu pudesse juntar na hora cresceu dentro de mim. A minha vontade, honestamente, era de regredir minha idade mental por completo, virar e falar:

"Sua macaca de imitação ridícula."

Mas daí eu lembrei que eu não estava mais no jardim de infância.

26 de jun. de 2012

Aquele do atendimento da gráfica

Aqui em casa eu cuido da minha impressora scanner como se fosse a minha filha biológica. Aquela que saiu das entranhas do meu organismo, numa cesariana complicada que levou horas para ser realizada. Porque se meu scanner pifar da noite pro dia, até eu poder comprar uma nova, eu fico sem conseguir digitalizar meus desenhos com facilidade. Daí o quê: Num desespero súbito eu teria que depender das gráficas de xerox.

Eu não sei nos outros estados, mas aqui no Rio de Janeiro as gráficas de fácil acesso exploram o consumidor das maneiras mais absurdas e sem noção. Um dia desses minha amiga D. precisava escanear um desenho e acabou ficando na mão.

"Então, eu to querendo escanear esse desenho aqui.", ela disse junto ao balcão da gráfica, para a atendente.

"Custa um real para escanear.", recebeu em resposta.

"Beleza. Então escaneia e coloca nessa pendrive aqui, por favor."

"Pra colocar na pendrive é mais quatro reais."

"QUÊ? E pra mandar por e-mail?"

"Quatro reais também."

"Minha senhora. Se eu te pagasse um real pra escanear, você ia fazer o quê com o desenho? Guardar de presente pra gráfica?"

"Bem, aí eu escanearia e nós faríamos a conta..."

"Ah para! Não faz sentido só escanear! E vocês nem avisam antes sobre os quatro reais absurdos!"

"Então, senhora. O total daria cinco reais, mesmo."

"Ah não! Pagar quatro reais para colocar um arquivo na pendrive? Não dou! Parece até que precisa de formação profissional pra fazer o download! Muito obrigada, viu? Passar bem!"

Dedicação total ao consumidor.

25 de jun. de 2012

Aquele dos elogios

Eu não sei lidar muito bem com elogios. Ou eu acho que a pessoa está tirando uma com a minha cara ou o meu ego infla.

"Você tá tão bonito!", me disseram.

"Ai, obrigado!", respondi.

"Vamos juntar a galera e tirar uma foto!"

"Bora."

"Nossa, ficou super bonita!"

"Ai para! Mas obrigado de novo!"

"Não... não você. A foto."

"Ah."

19 de jun. de 2012

Aquele dos 26 estados

Eu devia ter uns dez, onze anos na época quando passei a maior vergonha da minha vida acadêmica. A pressão da faculdade e meus primeiros empregos foram fichinha em comparação a primeira humilhação pública que eu passei em toda a minha vida. Acho que estávamos no meio da aula de Redação quando o diretor da minha primeira escola entrou na nossa sala de aula, num costume corriqueiro, para discursar algumas palavras sobre o amor à pátria e sobre como a educação era importante para o nosso país, o que nenhum aluno realmente parava para prestar atenção. O nome do diretor agora me falha na memória, mas vamos chamá-lo de Emanuel.

Emanuel era um velho babão. Já devia estar com o pé na cova e ninguém exatamente dava bola para o que ele falava porque ele já não batia muito bem da cabeça por causa da velhiche, ele tinha lá os seus problemas e maioria das palavras que ele pronunciava, ou grunhia, eram praticamente impossíveis de se identificar. Toda a vez que ele entrava numa sala de aula para proclamar seu discurso moralista ele escolhia algum aluno aleatório para responder a alguma pergunta da vida. Eu nunca dei muita bola para isso porque eu sempre fui invisível na época do ginasial, mas daí um dia ele apontou para mim.

"Você.", ele disse. "Quantos estados tem o Brasil?"

Quantos estados tem o Brasil? Eu pensei. Eu sei lá quantos estados o Brasil tem! Qual é a importância disso? Vai ajudar a salvar vidas eu saber de cor quantas porras de estados tem a porra do país? Se ele quer saber quantos estados tem o Brasil, que pegasse um maldito Atlas e contasse os estados um por um ele mesmo! Mas não, ele tinha que perguntar diretamente a mim, no meio de todos os meus colegas e professora.

"Ah, essa é muito fácil!", murmurou uma vagabunda sentada ao meu lado.

Eu olhei pra vagabunda de esguelha por um segundo, e voltei o olhar para o velho babão, que ainda tinha os olhos fixos em mim, naquele meu estado patético de não saber o que responder.

"Ah, er... sei lá.", eu respondi.

"Mas como assim você não sabe?", ele persistiu.

"Ué, eu não sei, o que eu posso fazer?"

"MAS É POR ISSO QUE A EDUCAÇÃO DO PAÍS ESTÁ COMO ESTÁ, BLÁBLÁBLÁ, EDUCAÇÃO, BLÁ, WHISKAS SACHÊ, EDUCAÇÃO, BLÁBLÁ."

Acho que para meus colegas o episódio não foi de total importância. Talvez por nenhum deles nunca na vida ter parado para contar quantos estados tinha o Brasil, não sei. Mas sei que minha humilhação em público não acabou virando piada nacional, para a minha sorte. Mas por possuir uma alma de aluno estudioso por toda a minha vida, até hoje eu lembro desse dia com ódio no coração.

Eu nem sei se o diretor Emanuel morreu, se tá vivo, se está em coma numa cama de hospital respirando por um tubo, mas por mim e por todos os alunos cujo do desespero momentâneo ele se alimentou, eu espero sinceramente que ele arda no mármore do inferno. Não que eu acredite no inferno, é claro.

15 de jun. de 2012

13 de jun. de 2012

Aquele da doação de sangue

Com toda essa movimentação da Parada Gay e tudo mais, um monte de gente resolveu voltar a falar das restrições absurdas sobre barrarem as tentativas de homossexuais doarem sangue, que não pode, que é sangue de risco, lálálá. Mas tem bicha que é tão altruísta, né, com aquela vontade ardente no peito de "Vou mudar o mundo" que até se faz de hétero pra poder ajudar quem tá morrendo.

Não consigo ser assim.

"Ah, porque eu meu recuso a doar sangue nessas condições.", eu disse.

"Mas nem se você não recusasse, né, bonito.", retrucou meu namorado. "Cinquenta quilos você tem! Depois de tirarem seu sangue vão ter que colocar tudo de volta, magro do jeito que você é. Vai nem aguentar ficar em pé."

Ridículo ele.

10 de jun. de 2012

Aquele do miado infernal

Meu namorado mora sozinho e vivia reclamando que não tinha um animalzinho pra lhe fazer companhia, já que eu faço faculdade, moro com meus pais e tenho um blog pra cuidar, então não é sempre que eu posso ficar divando à toa na casa dele. Há um mês atrás ele salvou uma gatinha recém-nascida largada ao relento num dia chuvoso, enfurnada numa caixa dentro do metrô. Tudo era felicidade. As noites frias não eram mais tão solitárias, ele dizia. Estava tudo muito bom.

Uma semana depois a gata acorda morta.

Foi o caos. Ele resolveu fazer velório pra gata, velada em pano branco para simbolizar sua pureza e se despediu dela ao som da marcha fúnebre. Pagou até o filho da vizinha, de dez anos, para mexer na terra e enterrar o caixão no quintal. Tudo requinte.

Daí esses dias eu estava passando a noite na casa dele e um miado infernal que só eu escutava estava me levando a loucura.

Miau miau miau.

"Tá ouvindo?" eu perguntei.

"Ouvindo o quê?"

Miau miau miau.

"Aí, ó! O miado! Tem um gato miando!"

"Não to ouvindo nada."

Passou meia hora, passou uma hora e o a miadeira persistia aos meus ouvidos. Fiz de tudo, desliguei a TV, apontei para onde estava ouvindo os sons. Nada funcionava. Eu estava começando a achar que era o espírito exú da gata que tinha vindo me assombrar.

Mas não, quando finalmente o surdo do meu namorado resolveu ouvir o miado, descobrimos que uma gata nojenta que perambula pelas ruas lá do bairro dele tinha dado cria há um mês e arrastou, olha que lindo, ela arrastou os filhotes pra DENTRO do quintal de casa. Provavelmente porque estava muito frio e chuviscando, normal. Enfim, acabamos adotando uma gatinha filhote pra nós e deixamos a gata levar o resto deles pra rua. E então FINALMENTE eu estava livre do maldito miado.

Como eu estava enganado.

Eu não sei por que gatos cismam em se enfiar em todos os buracos IMPOSSÍVEIS de saírem facilmente. Sabe-se lá como, um dos filhotes se enfurnou no vão MINÚSCULO entre o teto de casa e o telhado. A miadeira, então, persistiu fielmente porque embora somássemos esforços para tirar o gato de dentro do telhado, ninguém conseguia meter a mão lá dentro para agarrá-lo e o filhote simplesmente não conseguia ou não queria sair sozinho. A única opção era esperar a gata maldita atender aos miados intermináveis do filho que saiu de dentro das entranhas DELA e fazer o mínimo para libertá-lo. Responsabilidade materna no reino animal, não vemos por aqui.

Passei mais umas DUAS NOITES com a porra do gato miando no meu ouvido. Nem dormi direito. A gata maldita fazia tudo, comia, dormia, brigava com os cachorros da rua, menos entrar em casa pra tirar o filhote de lá. Depois de um tempo, vimos a bichana se espremer pra dentro do quintal daqui e sumir de vista. No dia seguinte não se ouvia mais miadeira alguma então demos um AMÉM porque o filhote, aparentemente, saiu de onde estava preso. Ou vai ver ele morreu de fome, não sei. Mas se for essa opção devemos ter certeza logo, porque se for, o problema não vai mais ser o miado. Vai ser o fedor de carniça.

6 de jun. de 2012

Aquele do acidente de trânsito

Ruas sem faixa de pedestre me irritam. Quero dizer, o que mais atrasa a sua vida do que precisar ficar brincando de passa-ou-não-passa, corro-ou-não-corro com carros, ônibus e caminhões que não ligam a mínima para se você está atrasado para um compromisso ou não? As pessoas precisam saber que isso realmente é um problema no Rio de Janeiro.

Tem umas ruas lá no centro do Rio que são o capeta pra se lidar porque você tem que andar a avenida inteira para achar o lugar certo para atravessar, o que nem sempre é um bom négocio porque, afinal, os motoristas daqui atravessam sinal vermelho a torto e a direito. Pra mim pelo menos atravessar a rua em alguns desses lugares requer o elemento coragem. Quer dizer, a gente não pode ter medo de morrer. Mas isso não é um problema tão grande pra mim porque eu estou quase completamente convencido de que vou morrer num acidente de trânsito.

Outro dia eu quase morri atropelado. De novo. E se eu não fosse ateu, juraria que no mínimo pelos últimos dezenove anos, Deus vem insanamente, desequilibradamente, constantemente tentando me matar num acidente de trânsito. Porque não é brincadeira as vezes que eu sabe-se lá como consegui me safar de ser erguido ou ter o corpo tragicamente amassado por um carro. É tipo absurdo. Eu já fui “quase” atropelado várias vezes. De todos os jeitos possíveis. Sabem matrix? Quando a pessoa se esquiva das balas em câmera lenta? Já aconteceu comigo. Mas não eram balas, era um caminhão.

Por ironia do destino o único meio de transporte que conseguiu a façanha de atravessar suas rodas por cima do meu corpo foi uma bicicleta, enquanto eu andava feliz de patins. Mas a culpa dessa vez não foi minha ou da minha necessidade estúpida de provar que consigo ser mais rápido que conduções. Eu tinha seis anos. Me ralei todo. Saiu sangue. Uma menina aqui da rua resolveu se certificar se passar por cima de uma criança com a bicicleta era realmente um ato perigoso. Eu nunca vou esquecer desse dia.

Mesmo assim, acho melhor eu começar a tomar mais cuidado com o trânsito a partir de agora. Não quero entrar para as estatísticas.

29 de mai. de 2012

Aquele da higiene alheia

Hoje meu primo Valério veio aqui em casa. Valério era aquele tipo de criança encapetada que ninguém nunca achou que fosse dar certo na vida. Inclusive alguns anos atrás quando eu ainda estava no ensino médio a mãe dele estava tão cheia de problemas que, pra não ter que se estressar ainda mais que o filho, que não queria nada com a vida, o enviou aqui pra casa pra passar uma temporada, na esperança de que o meu pai, o bom e velho pai rígido, conseguisse dar um jeito naquela criatura pra ele virar gente. O tempo passou, ele já embarcou de volta pra casa dele e de vez em quando ele aparece.

Daí que hoje depois do colégio ele passou aqui pra almoçar.

"Vai lavar a mão antes de almoçar, moleque!", meu pai mandou, gritando.

"Que lavar a mão o quê! Lavar a mão pra quê?!"

"Você por acaso sabe por onde essa sua mão andou o dia todo?"

"Sei."

"VAI LAVAR A PORRA DA MÃO!"

"Tá, tá."

"COM SABÃO, VALÉRIO!"

"CARA, VOCÊ É MUITO CHATO!"

"LAVA DIREITO ESSA MÃO, ESFREGA COM FORÇA! TÁ COM MEDO DE ESFREGAR?! TÁ PARECENDO MULHERZINHA! VOCÊ É LADY?"

"LARGA DO MEU PÉ!"

"LAVA ESSA MÃO DE NOVO! TO MANDANDO! AGORA ENXÁGUA! NÃO, COM ESSA TOALHA NÃO, ELA É BRANCA, VAI DEIXAR ELA TODA PRETA!"

"É só porque eu sou preto, não é?"

"NÃO, É PORQUE VOCÊ É PORCO!"

26 de mai. de 2012

Aquele em que eu falo rápido demais

Não que eu concorde, mas minha mãe vive dizendo que eu falo meio rápido demais, só que na verdade eu considero a velocidade da minha fala num nível normal, não chega a ser exatamente um problema, o problema é a minha mãe que vive enchendo o meu saco querendo me obrigar a ir num fonoaudiólogo, dizendo que eu preciso ir num médico para resolver os meus problemas de fala porque ela reclama que as pessoas, ela principalmente, não entendem as coisas que eu digo, que isso pode ser uma deficiência provida de um gene familiar pois a mesmíssima coisa aconteceu algumas vezes na minha família, aconteceu com meu tio Lúcio e minha tia Neide que na adolescência falavam rápido demais e acabaram escolhendo resolver o problema de se atropelarem nas palavras que pronunciavam num fonoaudiólogo, mas eu não tenho vontade alguma de aprender a falar como eles porque, fala sério, eu não quero falar pausado que nem um idiota pronunciando cada palavra na velocidade da eternidade como se eu estivessse morrendo, porque é assim que meus tios aprenderam a ter o costume de falar depois do tratamento na fono e meu estilo de fala não dá pra ser assim, eu não sou lento, eu não gosto de lentidão, eu gosto das coisas rápidas, portanto minha vida seria muito mais fácil se minha mãe compreendesse isso e parasse de sugerir que eu faça tratamento, porque eu não preciso, eu realmente não preciso, que culpa eu tenho se às vezes ela ou as pessoas não entendem o que eu falo e eu tenha que repetir, não que eu repita né porque se tem uma coisa que me irrita é quando me mandam repetir algo que eu acabei de dizer, nossa me irrita muito, mas o que me irrita mais ainda é aquela maneira bicho-preguiça de falar porque, fala sério, aquilo não é vida, aquilo é atraso de vida, e a vida é muito curta pra ser atrasada, a minha mãe inclusive tem o mesmo "problema" que eu, ela vive reclamando que fala rápido demais também e que eu só aprendi a falar dessa maneira irregular por causa dela, por influência dela, mas eu não entendo o motivo dela achar que precisa ir numa fono, porque eu não preciso, não tem a menor necessidade, e se eu não preciso ela também não precisa, porque eu entendo o que ela fala perfeitamente bem, então se eu falo rápido porque cresci com minha mãe falando rápido demais e consigo entender tudo o que ela fala com perfeição, então, respectivamente, isso significa que EU não preciso de tratamento porque eu falo numa velocidade que dê para as pessoas entenderem, e ponto final.

24 de mai. de 2012

Aquele do chihuahua

Sabe, às vezes eu queria ser um chihuahua. Eu sempre vi o cachorro da raça chihuahua como aquele cachorrinho franguinho, pequenininho, o companheiro clássico de uma patricinha podre de rica. Um cachorro com um temperamento que absolutamente não faz juz ao seu tamanhinho de bolso.

Quer dizer, a imagem que eu tenho dos chihuahuas é de um animal totalmente histérico, se atropelando na sua condição mais-que-irritante com aquele latido esganiçado e impossível de se lidar. Imagino o chihuahua como um grande estúpido corajoso, bravo o suficiente para enfrentar os cães com o visual mais perigoso com relação a ele, sem a menor noção de que obviamente esses mesmos cachorros seriam capazes de estraçalhar o pobre do chihuahua em pedacinhos como se ele fosse uma meia velha. Vejo o chihuahua, principalmente, como um cachorro que apesar de tudo isso, não tem medo do que é, aparentemente, mais forte do que ele.

Não sei se eu chamaria isso de coragem ou de burrice, pra falar a verdade, mas eu admiro essa determinação absurda que o chihuahua detém. É quase poético.

Eu daria um ótimo chihuahua.
Mas puta que pariu, como eu seria irritante.

22 de mai. de 2012

Aquele do com ou sem emoção

Uma vez ou outra sempre acontece da gente ficar um tempinho esperando ônibus, né. Aqui no Rio é a desgraça. Comigo, pelo menos, acontece sempre. Isso deve ser karma, eu devo ter sido motorista de ônibus na vida passada, daqueles que saía sempre atrasado. Sabe aquela coisa de passar o seu ônibus no sentido contrário umas cinco vezes e NENHUM aparecer no sentido que você tá precisando? História da minha vida.

Num desses dias voltando pra casa eu devo ter ficado uma horinha básica esperando meu maldito ônibus. Uma hora, né. O basicão. Quando finalmente me chega o ônibus, todo mundo já tinha desistido e lá estava eu sozinho no ponto final, subindo no ônibus com o dinheiro na mão pro trocador, tentando ignorar o escândalo que o motorista estava fazendo berrando que não queria mais viver e que não aguentava mais sua profissão.

E foi então que ele resolveu falar COMIGO.

"E AÍ, COM EMOÇÃO OU SEM EMOÇÃO?", ele gritou pra mim, os olhos esbugalhados.

"Perdão. Eu não entendi."

"COM EMOÇÃO OU SEM EMOÇÃO, MOLEQUE?" ele repetiu, mais alto. Peraí, moleque?

Daí eu parei. Tentei pensar o mais rápido possível pra poder responder o mais rápido possível. Eu sigo uma filosofia que pra gente alterada eu tenho que responder rápido, com medo do que pode acontecer comigo caso eu fique calado que nem um idiota. O problema é que eu não consegui desenvolver uma resposta inteligente para devolver naquela situação.

"Sem emoção.", eu respondi finalmente.

"Ah, então é melhor você descer do ônibus, porque esse aqui vai ser com bastante emoção!"

Daí o que mais, né. Fodeu, é hoje que eu vou morrer. Foi o que eu pensei. E acho que por pouco foi o que não aconteceu. Aquele motorista doente deve ter ultrapassado uns cinco sinais vermelhos, fazia curvas que nem um louco e os quebra-molas então nem existiam pra ele. Foi o inferno. Eu me senti naquele filme em que as pessoas passam o filme inteiro trancadas dentro de um veículo sem freio em alta velocidade.

Mas bem que o motorista tinha razão, eu devia ter é descido, mesmo. Talvez esperar mais uma horinha pelo próximo ônibus não teria sido uma má ideia.

20 de mai. de 2012

Aquele da falta de material

Honestamente? O que eu mais queria agora era poder sair pra dançar e ficar louca de bêbada na pista de dança de qualquer boate gay nesse estado maldito que tenha bebida liberada. Mas não bebendo cerveja. Não. Cerveja não desce na minha garganta. Pra mim qualquer coisa é melhor que esse xixi com espuma que dão pra gente beber, até essas caipirinhas vagabundas feitas com kisuco de limão misturado com aquelas cachaças das mais baratas, sabem, daquelas que usam pra fazer oferenda de macumba.

Mas não. Eu tenho que ficar em casa, vendo a vida passar, esperando ficar melhor da saúde. Sentindo dor no corpo, entalado na cama assistindo qualquer merda que esteja passando na televisão ou algum filme/série que eu decida baixar para passar o tempo.

Eu quero sair, ver gente nova, voltar a estudar, saber das fofocas. Preciso das futilidades da vida pra sobreviver e, o mais importante, escrever sobre elas. Porque ficar empacado em casa não está me gerando material nenhum e eu já to de saco cheio.

13 de mai. de 2012

Aquele da tote bag

Um dia desses estava me arrumando pra sair e por uma questão de necessidade resolvi levar uma tote bag comigo porque não estava afim de usar mochila. Tote bag é tipo uma eco bag, não sei realmente o que difere uma da outra, mas enfim. Enfiei tudo o que precisava na maldita tote bag e a joguei no ombro, pronto pra sair. No big deal, afinal, eu canso de ver gente usando a tal bolsa por aí, seja homem ou mulher. Quer dizer, não que aqui no Brasil chova de caras héteros usando eco bags a torto e a direito, mas eu não diria que a imagem de um homem usando uma eco bag na rua faria sangue jorrar dos olhos das pessoas. Mesmo assim, como eu deveria saber, meu pai resolveu implicar.

Mamãe e papai estavam na sala assistindo a TV quando eu passei por eles.

"Que bolsa é essa, Alison?", perguntou meu pai, naquele tom irritante que só os pais sabem fazer, de deixar qualquer filho cheio de ódio.

"O que é que tem?", eu respondi.

"Deixa eu ver essa bolsa."

"Ah, pai, por favor, né."

"Você não vai sair com essa bolsa!"

"E quem é que vai me impedir?"

"Homem não é pra ficar andando com essa bolsinha, não! Isso aí é de mulher, você não vê?"

"Não quero saber."

"Alison, você NÃO VAI sair com essa bolsa."

"Ah, não? Me veja saindo com ela, então."

Me virei, e saí.


12 de mai. de 2012

Aquele da tirinha #021

Inspirado por B.
tirinha feita que nem a minha cara, porque já tava mais que na hora de atualizar essa bagaça, e eu estava morrendo de sono


5 de mai. de 2012

Aquele da abstinência sexual

Como eu ando doentinho (doentinho é apelido, mas ok), eu ando passando muito tempo no consultório fazendo coleta de sangue e lá aparece de tudo quanto é gente, né.

"Senhor, para fazer esse exame o senhor vai ter que ficar em abstinência.", informou a secretária.

"Abstinência? Que abstinência?", o velho perguntou.

"Abstinência sexual, senhor."

"Abstinência sexual? Mas que diabos é abstinência sexual?"

E foi então que minha mãe resolveu se meter.

"MINHA FILHA, FALA LOGO NO POPULAR! É SÓ ASSIM QUE ELE ENTENDE! NÃO PODE FAZER SEXO, MOÇO. ISSO QUE ELA QUIS DIZER, SEXO! VOCÊ NÃO PODE FAZER SEXO! ABSTINÊNCIA SEXUAL É ISSO. ENTENDEU?"

A secretária, toda envergonhada, deu uma risadinha.
Mas a boa coisa é que o moço finalmente entendeu e ainda aprendeu uma palavra nova no dia: Abstinência.

Mamãe é dez.

3 de mai. de 2012

Aquele do exame de fezes

E daí que a minha vida ultimamente tem sido um exame de fezes. Tipo, literalmente e figurativamente. E eu não aguento mais. Sábado passado eu passei super mal, fiquei de cama, e aqui estou eu, quase uma semana depois, ainda em casa, sentindo náuseas e dor no corpo o dia inteiro, esperando meus exames saírem para que meus médicos saibam finalmente que diabos eu tenho e tomarem alguma atitude.

Porque se tem uma coisa que eu odeio é ficar doente. Ficar doente é a abominação da minha vida, primeiro porque eu já tenho que obedecer limites por causa das minhas trezentas alergias. Quer dizer, eu tenho uma lista de restrições, cheia de coisas que se eu comer eu MORRO EM INSTANTES. Tipo, Zeus? Hermes? Afrodite? Qualquer um que esteja aí em cima. Não é o suficiente? Não é estrago o SUFICIENTE NA MINHA VIDA? Segundo que eu não suporto faltar aula. Pelo menos as importantes, né, porque a faculdade de Letras é infestada de disciplina inútil e repetitiva com professores mais inúteis ainda, mas isso a gente releva. O ponto é, o que é a minha vida sem estudar? Nada. Eu não faço NADA de útil, eu to a semana inteira assistindo a filmes e novelas japonesas o dia inteiro, torcendo pra não vomitar no edredon.

Quer dizer, não basta eu passar dias e mais dias do ano sofrendo com rinite, sinusite, falta de ar e o caralho a quatro, eu tenho que sofrer um pouco mais. 

Mas acho que a pior coisa no fim do dia é aquela sensação de ser uma mulher grávida no fim da gravidez, ficando enjoado por qualquer coisa e mijando a cada cinco minutos. E eu tenho um pinto! Sabe? Eu não devia estar sentindo isso. Eu não detenho a dádiva da menstruação (como diria nosso mestre Clodovil, que descanse em paz). Isso está sendo um martírio e eu não aguento mais ficar em casa. Eu até poderia arriscar ir para as aulas mas 1) Eu não vou viajar uma hora e meia, duas horas de ônibus passando mal lá dentro no meio daquele trânsito maravilhoso da avenida Brasil e 2) A comida do restaurante universitário é nojenta e eu não vou comer aquilo no estado que estou. Afinal, já basta eu ter de comer aquela gororoba quando eu estou BEM de saúde.

24 de abr. de 2012

Aquele da heterofobia

Esses dias eu fui chamado de heterofóbico. Gente, eu não sou heterofóbico. Não mesmo. Eu não tenho problema algum com a sexualidade das pessoas, eu acho que eu cresci com dificuldade o suficiente naquela prisão que a gente chama de escola para ter alguma atitude desrespeitosa desse naipe, o problema aqui na verdade está num nível muito mais pessoal do que as pessoas pensam de primeira instância, e não irracional.

Vou filtrar logo as mulheres dessa reflexão porque as mulheres geralmente são pessoas mais sofisticadas e fáceis de lidar. Pelo menos pra mim. Sabe o menininho que cresceu rodeado de garotas na escola, geralmente sem a companhia de outro garoto? Em toda turma teve um. Então, esse era eu. Inclusive até hoje é assim, tenho mais amigas do que amigos. É muito difícil eu me identificar com homens, mesmo gays, porque sei lá, o modo de pensar é diferente. Não que eu me identifique com o gênero mulher, seja transgênero ou coisa parecida, o que não é o caso, é mais uma questão de afinidade mesmo.

Eu não tenho problemas com caras héteros se você pensar no que essas palavras de fato significam: Caras. Héteros. Eu APENAS me reservo no direito de não me juntar com pessoas que acham que a ambiguidade que se encontra na frase "Ele gosta de comer banana" seja uma piada sofisticadíssima. Sabem? Eu não tenho paciência.

O meu problema então é com idiotice, com aquele nível absurdo de escrotidão e irrelevância que sai da boca de certos indivíduos do gênero masculino. Desde a infância nós somos informados que as mulheres são seres de um intelecto mais avançado, que amadurecem mais depressa, enfim. Daí nós temos aquela tendência ingênua a acreditar que aquele menino sujinho de lama vai crescer, tomar um daqueles tapas de consciência que a vida sempre nos dá e assim se tornará uma pessoa menos insuportável de se lidar. Mas não. Ele não amadurece. Ele continua a tratar a Banana como um eterno símbolo fálico em todas as ocasiões. E. eu. não. tenho. paciência.

Então, sei lá, quando eu dou aquela revirada nos olhos depois de ouvir um comentário infeliz e digo "Ai, hétero é foda" é porque, realmente, eu já tive de aturar muita coisa nessa vida em casa e fora dela, e já to de saco cheio.

22 de abr. de 2012

Aquele do cúmulo de ser assaltado

Finalzinho de tarde e Rômulo estava sozinho no ponto de ônibus de uma rua deserta quando Sr. Assaltante aparece. Não tinha nada além de uma nota de cinco reais em mãos, pra voltar pra casa.

"PÉRDEU, PÉRDEU, MANO, PASSA A GRANA!"

"Mas eu só tenho cinco, reais, moço."

"NUM INTERESSA, PASSA."

Sr. Assaltante arranca o dinheiro da mão de Rômulo e se afasta para ir embora.

"Espera, eu também tenho um celular, caso você queria roubar ele também."

Acontecimento verídico.

21 de abr. de 2012

Aquele em que eu sou sonâmbulo

Quando eu era criança eu fazia certas coisas das quais eu não me orgulho. Coisas que eu fazia quando estava dormindo. Eu não sei se eu posso realmente ser chamado de sonâmbulo ou se tudo isso é apenas outra condição psicológica porque eu acho que sonâmbulos não lembram de nada dessas situações, não é? Mas não, eu tenho recortes de imagens de não todos, mas alguns desses momentos.

Teve um episódio mais comentado aqui em casa porque eu tinha um primo dormindo aqui no dia, e ele e meus pais estavam acordados assistindo ao programa do Jô. Me contam que eu levantei de madrugada, andei o caminho inteiro até a cozinha, levantei a tampa da lata de lixo e fiz xixi lá dentro. ENQUANTO MEU PAI, DESESPERADO, SEM SABER O QUE FAZER VENDO FILHO DELE ANDANDO DORMINDO, ME AJUDAVA A NÃO ERRAR O ALVO. Eu devia ter uns seis anos idade, não lembro.

Teve outros episódios em que eu apenas andava pela casa tirando almofadas do lugar, parando em pé em frente a cama dos meus pais, abrindo e fechando a geladeira em movimentos viciosos. Levantava da cama e rolava pra debaixo dela (o que na primeira vez levou meus pais a acreditaram que eu havia sido abduzido por ET's já que eles não me encontravam em lugar nenhum da casa). Nada inofensivo.

Depois que eu cresci esses episódios começaram a ser menos frequentes até que pararam de acontecer, só que esses dias ocorreu um fato meio bizarro. Eu havia comprado alguns chicletes na farmácia e os deixei guardados na mochila. Quando acordei, tinha chiclete seco grudado nas juntas das minhas DUAS PERNAS. Quer dizer. Como?

Eu não sei o que aconteceu. A única coisa que me passou pela cabeça foi eu ter acordado de madrugada, mascado um chiclete e depois colado ele na perna porque, né, não tem lugar melhor pra colocar chiclete babado se não na sua própria pele enquanto você tá dormindo.

Agora, pra tirar aquela goma seca maldita das juntas foi a desgraça. Espero de verdade que não aconteça uma continuação desse episódio.

11 de abr. de 2012

Aquele do metrô lotado #03

Quem anda de metrô lotado sabe. Às vezes você se mexe contra a sua vontade. Você atravessa a porta numa ponta do vagão e sai lááá na outra sem saber como isso aconteceu. Pegar o metrô de manhã na primeira estação é a desgraça porque primeiro que o metrô tá supostamente vazio, né, e as pessoas saem correndo desesperadas pra arranjar um lugar ou um canto aconchegante pra se encaixar. Daí o que acontece, você meio que é levado pela corrente de gente contra a sua vontade. Por isso não adianta ir com amiguinho pensando que vai viajar de metrô conversando a viagem inteira, porque não vai rolar.

Outro dia entraram mãe e filha no mesmo vagão e não deu outra. Foram as duas arrastadas para pontos exatamente opostos.

Nenhuma alma viva falava no vagão.

"Ô MANHÊEE!!! CADÊ VOCÊ??!!", gritou uma delas, de repente.

Bem no extremo do outro lado do vagão, via-se uma senhora na ponta dos pés, esticando os dois braços, acenando como se sua vida dependesse disso.

"TÔ AQUIIIIIIIII!!!"

Daí pronto. Permaneceram conversando desse modo até chegarem na estação destino.
Foi a desgraça.

9 de abr. de 2012

Aquele da salvação

Vizinho vive a vida inteira só fazendo coisa errada, pagando de machinho, de fortinho "comigo ninguém pode". Bateu na mulher, fez da vida da esposa um inferno, deu um soco na cara da filha quando descobriu que ela estava grávida, expulsou filho de casa, renegou a neta porque ela nasceu preta.

Faz merda a vida inteira só esperando chegar na meia idade pra dizer pra família que se arrependeu. Comprou meia dúzia de CD's de música gospel pra ouvir no último volume do estéreo, de forma que a rua inteira possa ouvir o louvor vindo de sua casa.

Cadê a coerência? Desculpa, mas não to achando.

8 de abr. de 2012

Aquele da caixa de chocolate

Ao chegar essa época gordurosa da Páscoa de comprar rios de chocolate para amigos e parentes, quando minha família vem me perguntar o que eu quero, eu descarto a possibilidade de receber uma caixa de bombons na hora, se puder. Essas caixas de bombons sortidos é o que tem de pior para gente chata e fresca que nem eu. Basicamente porque nós não comemos qualquer chocolate.

O que acaba acontecendo é que eu ganho uma caixa de bombons e só como 1/3 das unidades que tem ali dentro. O resto acaba atravessando o esôfago da senhora Minha mãe, que na fome come até pedra.

Mas o que fazer quando você ganha uma caixa de bombons e o seu bombom preferido, aquele pelo qual seu coração bate mais acelerado enquanto abre a caixa, foi esquecido de ser colocado junto? O que fazer?

Serviço de atendimento ao consumidor, é claro.

"Minha senhora, é o seguinte. Eu ganhei uma caixa de bombons da sua fábrica e vocês esqueceram de colocar um bombom."

"Um bombom?"

"Sim, senhora."

"O senhor quer que nós o reembolsemos no valor de um bombom?"

"Exatamente."

"Tu. Tu. Tu. Tu."

7 de abr. de 2012

Aquele sobre San Telmo

Daqui a um ano e meio mais ou menos, lá pro final de 2013, eu estarei finalmente (ou provavelmente) me formando. E aí que chegou aquela época mágica em que você está bem no meio da sua graduação e todo mundo que entrou no mesmo período que você começa a pensar sobre as comemorações do fim dessa etapa maravilhosa de nossas vidas. Bem. Como pagar uma festança espetacular com direito a imprensa e reportagem na capa do jornal O Globo não está no meu orçamento e nem da maioria dos meus amigos, eu decidi não entrar na lista da festa de formatura que a galera que entrou comigo está organizando. Primeiro que estou inclinado a acreditar que a colação de grau da própria universidade já basta pra mim, segundo que eu não criei exatamente muitos laços com as pessoas que estarão de fato participando da festa.

Na minha faculdade a cada período os alunos de Literaturas são divididos em duas turmas: A turma A e a turma B. E por causa de uma maldição que assombra os alunos do meu curso desde os tempos mais remotos, a turma A está fadada a se odiar e criar subgrupos enquanto a turma B segue feliz e unida durante a graduação inteira. E é a turma B que está organizando e se concentrando em peso na festa particular de formatura.

Bom, eu faço parte da Turma A.

Não que a gente se odeie mesmo. Na verdade eu acredito que nos damos e interagimos entre nós muito bem. A gente só não tem a mesma figa e a perseverança da turma B de "Para sempre unidos". Então o que o subgrupo da qual faço parte resolveu fazer? Juntar uma grana pra fazer uma viagem homérica para a Europa. Não muito tempo se passou, todo mundo caiu pra realidade e percebemos que nada disso vai acontecer.

Bom, pelo menos EU caí pra realidade. Mas a ideia permanece viva. Alguns querem ir pra Portugal, outros querem ir pro Chile. Se eu pudesse escolher, eu iria para qualquer lugar de onde pudesse pegar um trem e viajar por todo o continente europeu.

Mas sinceramente, permanecer na América do Sul começou a não me parecer uma ideia tão ruim assim. Existe um lugar em especial que eu amaria ter a chance de visitar. Sabem, eu cresci lendo a Mafalda (geralmente nas aulas de língua portuguesa) e seria uma honra conhecê-la pessoalmente.


Mafalda atualmente reside no bairro de San Telmo, na cidade de Buenos Aires na Argentina e pode ser frequentemente encontrada num certo banco em particular.

Um dia ainda visito essa linda.

2 de abr. de 2012

Aquele do 2º de Abril

"Sabe quem me chamou de linda?", veio C me perguntar ontem.

"Quem?"

"O James Blunt. Estava ouvindo 'You're Beautiful' hoje."

Acreditem ou não, essa foi a piada mais sofisticada do meu 1º de Abril de 2012.
Meu dia foi de uma riqueza incontestável.

1 de abr. de 2012

Aquele do 1º de Abril

Eu odeio o 1º de Abril. Eu não sei se essa data é tão marcada assim em outros países, mas no Brasil, o primeiro dia do mês de Abril é um inferno pra mim. É a piadinha pra cá, é piadinha pra lá. E as pessoas não se cansam. Graças a Zeus esse ano o dia caiu num domingo e eu não sou obrigado a ir a faculdade ter que suportar piadinhas dos poucos héteros que existem na faculdade de Letras.

Não que eu já não tenha me divertido em Primeiros de Abril anteriores a custa de outras pessoas, né. Há alguns anos atrás eu me juntei com um amiga, que estava meio sumida de um círculo social de que fazíamos parte, e fiz todo mundo acreditar que ela havia morrido num acidente. Teve gente que chorou, quiseram fazer um memorial, foi um espetáculo, mas no fim quando minha amiga surgiu de trás de um arbusto gritando "Pegadinha do Malandro!", quem disse que as pessoas ficaram com raiva DELA, a mente maligna por trás da ideia? Não, não, não. Todo mundo ficou puto foi COMIGO, o desgraçado que disseminou a brincadeira sem graça.

Mas isso é passado. A verdade é que eu não tenho mais saco para esse dia e precisava deixar isso registrado. Por causa disso, eu prometo recolher-me a minha insignificância pelo resto do dia inteiro de forma que eu não me estresse com nada e ninguém. Afinal, meus amigos tem alma de piadista.

26 de mar. de 2012

Aquele do autógrafo do Ziraldo

Meu namorado trabalha com produção cultural e esses dias acabou esbarrando com o Ziraldo, the one and only, sensualizando com suas madeixas brancas. Tive que pedir um autógrafo personalizado pra exibir:


"Pra Jorge Alison
Sucesso Artístico!
Ziraldo"

25 de mar. de 2012

Aquele em que homem não presta, e a mãe vem logo atrás

Homem é uma criatura que não presta. E eu não digo isso por ser homem e por conhecer a manha na pele, não. Eu digo isso como ser humano.

A festa estava rolando lá pelas seis, sete horas da noite. Era o aniversário de uma criança, a menina estava completando um aninho de idade, e apesar disso a bebida estava rolando solta. Depois de alguns anos de experiência de vida eu cheguei a conclusão que festa de primeiro aniversário não passa de uma desculpa esfarrapada dos pais para reunir os amigos e familiares para ganhar coisas de graça e encher a cara, com as crianças correndo como plano de fundo.

Cleonice era prima de criação de Alfredo que era primo legítimo dos pais da criança, que não tinham relação nenhuma comigo. Alfredo estava noivo de um relacionamento de longa data e o casório já estava até marcado. Vamos chamar sua noiva de Agda. Enfim. Cleonice estava de olho em Alfredo desde o início da festa. Era piscadela pra cá, acenos pra lá, olhadas, beijinhos no ar. Né, aquelas coisas, e pelo o que eu pude perceber, a Agda nem tchum pra tudo aquilo.

"Ai, ele não tá percebendo!", bufou Cleonice. "Ângelo, vai lá falar com ele, já que ele não se toca."

Eu não sei exatamente como dizer de forma discreta a uma pessoa compromissada que alguém quer bater um "lero" com ela enquanto o compromisso da pessoa está BEM AO LADO DELA. Mas de qualquer forma, Ângelo foi lá e  fez o serviço. E ainda levou uma resposta:

"Diz pra ela que eu falo com ela depois." respondeu Alfredo pelo canto da boca.

Acho que não tem como uma pessoa fazer a outra tão de idiota sem ela não perceber nada, né, e minha teoria acabou provando-se correta. Mas se já não bastasse isso, na hora em que Alfredo foi sozinho respirar um ar puro fora da festa, e Agda ter percebido que Cleonice não se encontrava em NENHUM lugar do interior do salão, já tratou de ir caçar o noivo.

O telefone celular de Alfredo tocou, e após balbuciar algumas palavras, desligou.

"Era minha mãe.", ele disse. "Ligou pra avisar que Agda estava vindo atrás de mim pra me pegar no flagra com a Cleonice."

Quer dizer. Até a mãe é cúmplice das cachorrices do filho.

Meninas. Meninos. Segurem seus homens firmemente. Se até a mãe tá a favor, tá fácil pra ninguém, não.

24 de mar. de 2012

Aquele em que eu sou ridículo

Eu fui uma criança muito tímida na infância, não falava direito com as pessoas e mal abria a boca. Conhecer pessoas foi um obstáculo que eu superei no período colegial-faculdade. Meus anos de colegial até meus primeiros semestres da faculdade foi a época em que eu me libertei do casulo. Em todos os sentidos possíveis (?).

Hoje em dia dizem que eu ainda tenho certos problemas com pessoas. Não em conhecê-las. Não. Na verdade eu até me acho bem sociável, quase extrovertido. Meu problema não é conhecer pessoas, meu problema é ignorar algumas delas.

No corredor da faculdade, uma vez, veio Bruno trazendo um garoto que eu não conhecia, vindo em minha direção.

"Ei, Jorge, esse aqui é o namorado da Sicrana."

"Ah, oi." Sem desacelerar o passo, dizendo isso, eu passo pelos dois e vou embora, sem dizer mais nada.

Ainda hoje Bruno conta essa história pra todo mundo como exemplo do quanto eu sou ridículo.
Mas eu não faço por mal, gente.
Juro.

20 de mar. de 2012

Aquele do metrô lotado #02

A hora do rush no metrô do Rio de Janeiro é engraçada porque você nunca consegue controlar a posição do seu corpo, né. É tipo jogar Twister, é uma coisa que fica além do seu poder de escolha. Uma perna tá num lugar, a outra está traçada de forma totalmente diferente e desconfortável e por aí vai.

Eu estava na estação de partida, sem conseguir mexer UM dedo sequer. Se o metrô tivesse janelas, teria gente sendo jogada pra fora delas à força por causa do aperto, afinal, em vagão lotado as pessoas aproveitam pra empurrar as outras na maior vontade. Eu, inclusive, sou uma delas.  Não tenho dó. Eu sou um palito de gente, se eu não machucar as pessoas, elas ME machucam.

Enfim. Um silêncio gostoso imperava no vuco-vuco do vagão e uma louca me vira, suspirando e quebrando o silêncio:

"Ai gente. Eu odeio solidão."

10 de mar. de 2012

Aquele do ônibus, o crente e a música ambiente

Sabem o que eu acho dessa palhaçada de tocarem música alta no ônibus ou em qualquer outro meio de transporte público? Uma mistura de putaria, ignorância e falta de respeito vindo de gente que não completou nem o segundo grau.

O maior absurdo é que ninguém fala nada, daí quando um viadinho resolve bater cabelo pra mandar o evangélico desligar a porra do celular, todo mundo fica olhando calado achando que tem show ao vivo acontecendo no meio do transporte público.

Voltando pra casa de ônibus, uma peça me resolveu colocar música gospel no último volume. Bem ao meu lado, veja bem. Quando acabou a primeira música, eu pensei que o cara ia se tocar e desligar, né, por causa dos meus murmúrios e de uma velha na frente reclamando da barulheira. Afinal, incomoda.

Não aconteceu.
Ele pegou o celular de novo e colocou outra música.

Perdi minha paciência e catei meus fones e o iPod de dentro da mochila.

"Moço, com licença.", eu disse, lhe chamando atenção e mostrando os fones de ouvidos, embora minha vontade fosse de esfregar os fones na fuça dele.

"Você sabe o que é isso?", perguntei. "Isso é um fone de ouvido."

Todo mundo prestava atenção.

"MERMÃO, ISSO AQUI É UM LUGAR PÚBLICO!" ele me disse.

Tentei articular, mas não funcionou. Crente sempre acha que tem razão.
A minha sorte, diferente do resto da maioria da gente daquele ônibus era que eu podia abafar aquela louvação ouvindo a minha própria música sem incomodar ninguém. Mas o filho da puta continuou com a barulheira evangélica.

Depois eu acabei ficando sabendo pelo meu namorado, que estava comigo e continuou no ônibus depois de eu ter descido, que o crente se juntou com uma crente velha e os dois iniciaram uma louvação a Deus no meio do ônibus, chamando todo mundo que quisesse participar da oração pra se juntar. Ah vai tomar no cu.

O governo precisa saber que isso é um problema sério no Rio de Janeiro.

9 de mar. de 2012

Aquele da tirinha #014

Dedicado a Lidiane

Veja a tirinha #010
E é isso o que eu, no fundo, sinto vontade de fazer toda a vez que um amigo puxa e acende um cigarro ao meu lado.

7 de mar. de 2012

Aquele do metrô lotado

Olha, vou falar que uma coisa complicada do sistema de transporte público do Rio de Janeiro é o metrô lotado de manhã. É aquela horinha mágica da galere trabalhadora se dirigindo aos seus respectivos empregos, tudo de uma vez só. Eu honestamente não sei como tem gente que consegue suportar essa situação diariamente. Sinceramente prefiro ir a faculdade de ônibus. Não tem ar-condicionado, demora o triplo do tempo pra chegar, mas pelo menos eu vou sentado escutando minha música e não sou perturbado por ninguém.

Ultimamente eu acabei tendo que usar o metrô de manhã, por falta de opção. Não vou reclamar por conseguir mais uma horinhas de sono, conseguir acordar bem mais tarde, blábláblá. Mas continuo achando o ó aquela esfregação com gente desconhecida.

Mas as vezes eu me divirto.

"Ai, estão me empurrando!", insistia uma mulher. "Tá muito apertado aqui! Não aguento mais! Vou sair. Vou pegar o próximo!"

O metrô parou e a mulher saiu.
Um espaço enorme apareceu do nada no meio do carro e uma senhora ao meu lado se manifestou:

"Mas também, gente, vocês viram o tamanho da bunda dela? Tava ocupando todo esse espaço!"

Confesso que não reparei na bunda da mulher.
Mas ri horrores.

26 de fev. de 2012

Aquele em que dormem no meu banheiro

Meu pai tem uma mania muito feia nos dias mais quentes do ano. Ele dorme no banheiro daqui de casa. As vezes eu conto esse fato bizarro para algumas pessoas e elas não acreditam. Como assim banheiro? Mas é verdade, gente. Eu só não tiro foto agora pra provar porque isso é infringir os direitos legais do meu pai de permanecer incógnito como guardião de um desequilibrado social.

Mas não é brincadeira. Meu pai literalmente agarra o primeiro travesseiro/almofada que vê pela frente, se dirige ao banheiro da casa, deita, se estica e... dorme profundamente. Com direito até a ficar se jogando de um lado pro outro para procurar a posição mais confortável do azulejo do piso. Não sei o por quê, mas ele acha que o banheiro é o aposento da casa que fica mais fresco no verão.

E tudo isso me incomoda bastante.
Quer dizer, se eu precisar usar o banheiro com urgência eu não posso porque meu pai está DORMINDO lá. Não é um absurdo?
É um absurdo.

20 de fev. de 2012

Aquele dos macaquinhos

(Santa Irapitinga do Segredo, 1941, Tarsila do Amaral)

"Que é isso, gente, são macaquinhos?" eu perguntei em voz alta.

Uma mulher em pé que estava bem ao meu lado na exposição da Tarsila Amaral, vendo a mesma imagem, virou pra mim indignada.

"Não. São criancinhas".

"Ah".

Mas ó, em minha defesa, aquele ali à esquerda, que está subindo o muro, parece que tem um rabo.

15 de fev. de 2012

Aquele em que gostam dos meus óculos

"Eu te acho muito bonito, sabia? Digo, o seu rosto, é bem másculo. Se fizesse academica pra ficar fortinho, eu até embarcava" me disse um amigo certa vez.

"Ah, você acha?" disse incrédulo o amigo dele, que estava sentado ao seu lado, me analisando de cima a baixo depois do comentário sobre mim "Eu gosto dos... óculos dele. Acho bonito".

Que merda de elogio foi esse? Meus óculos?
Eu acho que, assim, nessas horas o silêncio é o melhor comentário a se fazer. E não "Não acho ele bonito, mas dos óculos dele eu gosto".

Se manca.

13 de fev. de 2012

Aquele dos recadinhos escolares

Minha mãe é maluca. Isso é inconstestável. Aliás, umas das razões para eu ser essa pessoa paciente, sensata e centrada que sou hoje em dia é por ter crescido em casa com uma mulher instável, desesperada e sem noção das consequências de seus atos.

Eu sempre fui um aluno exemplar, sabem. Mas não era abitolado. Às vezes eu não tinha vontade de estudar ou fazer porra de dever de casa nenhum e não me preocupava tanto com isso. O problema era que a minha escola ginasial era meio rígida quanto às obrigações escolares, dependendo do professor. Quer dizer. Eu não podia deixar de fazer uma porcaria de exercício que eu já levava um aviso pra casa pedindo providências sobre meu comportamente inadequado. Aviso esse que, no dia seguinte, deveria ser entregue assinado por pelo menos um dos pais. Como meu pai quase nunca se encontrava em casa, quem tinha o dever de acompanhar meu rendimento escolar era, obviamente, mamãe.

Não que mamãe tenha sido uma excelente aluna. Não, eu acho que não. Lembro de histórias que ela me contava sobre os últimos anos de escola dela. Um em particular em que ela ameaçou de morte o professor de química dela para que ele a aprovasse e ela pudesse se formar com o resto da turma. Segundo ela, química não entrava em sua cabeça de jeito nenhum. É claro que não posso dizer com plena certeza de que isso realmente é verdade e aconteceu, mas se eu fosse vocês, eu não duvidaria da Srª Minha mãe.

Hoje eu achei umas agendas antigas do meu ginasial e por diversão fiquei lendo meu histórico de recadinhos de professores. Minha mãe assinava todas, sem exceção. Cada uma de um jeitinho peculiar.

"Sr. Reponsável,
O aluno esqueceu o material de Língua Portuguesa.

Meu filho é um irresponsável.
ass: MAMÃE"

"Sr. Responsável,
O aluno trouxe o exercício incompleto de Matemática para o dia tal.

Só esganando ele...
ass: MAMÃE"

"Sr. Responsável,
O aluno esqueceu a apostila de Português em casa outra vez.
Peço providências.

Vou comprar memoriol pra ele.
ass: MAMÃE"

"Sr. Responsável,
O aluno não fez a tarefa de Matemática.

Este é um dos vários recados. Já chamei sua atenção, só esganando. Prometo fazê-lo.
Outras sugestões estou aceitando.
ass: MAMÃE"

Entre outros recados.

E esse é o tipo de coisa que eu tive que aturar na minha infância. E não adiantava dizer que eu não ia levar aquele tipo de assinatura. Primeiro porque eu precisava dela para entrar na escola e segundo porque eu recebia um "Vou te meter a porrada se você não levar isso" se eu me recusasse. É claro que o meu constrangimento quando mostrava a agenda com a assinatura do responsável de volta para os professores, pensando bem, no fundo deveria ter sido minha verdadeira punição.

Mamãe é demais.