19 de jun. de 2012

Aquele dos 26 estados

Eu devia ter uns dez, onze anos na época quando passei a maior vergonha da minha vida acadêmica. A pressão da faculdade e meus primeiros empregos foram fichinha em comparação a primeira humilhação pública que eu passei em toda a minha vida. Acho que estávamos no meio da aula de Redação quando o diretor da minha primeira escola entrou na nossa sala de aula, num costume corriqueiro, para discursar algumas palavras sobre o amor à pátria e sobre como a educação era importante para o nosso país, o que nenhum aluno realmente parava para prestar atenção. O nome do diretor agora me falha na memória, mas vamos chamá-lo de Emanuel.

Emanuel era um velho babão. Já devia estar com o pé na cova e ninguém exatamente dava bola para o que ele falava porque ele já não batia muito bem da cabeça por causa da velhiche, ele tinha lá os seus problemas e maioria das palavras que ele pronunciava, ou grunhia, eram praticamente impossíveis de se identificar. Toda a vez que ele entrava numa sala de aula para proclamar seu discurso moralista ele escolhia algum aluno aleatório para responder a alguma pergunta da vida. Eu nunca dei muita bola para isso porque eu sempre fui invisível na época do ginasial, mas daí um dia ele apontou para mim.

"Você.", ele disse. "Quantos estados tem o Brasil?"

Quantos estados tem o Brasil? Eu pensei. Eu sei lá quantos estados o Brasil tem! Qual é a importância disso? Vai ajudar a salvar vidas eu saber de cor quantas porras de estados tem a porra do país? Se ele quer saber quantos estados tem o Brasil, que pegasse um maldito Atlas e contasse os estados um por um ele mesmo! Mas não, ele tinha que perguntar diretamente a mim, no meio de todos os meus colegas e professora.

"Ah, essa é muito fácil!", murmurou uma vagabunda sentada ao meu lado.

Eu olhei pra vagabunda de esguelha por um segundo, e voltei o olhar para o velho babão, que ainda tinha os olhos fixos em mim, naquele meu estado patético de não saber o que responder.

"Ah, er... sei lá.", eu respondi.

"Mas como assim você não sabe?", ele persistiu.

"Ué, eu não sei, o que eu posso fazer?"

"MAS É POR ISSO QUE A EDUCAÇÃO DO PAÍS ESTÁ COMO ESTÁ, BLÁBLÁBLÁ, EDUCAÇÃO, BLÁ, WHISKAS SACHÊ, EDUCAÇÃO, BLÁBLÁ."

Acho que para meus colegas o episódio não foi de total importância. Talvez por nenhum deles nunca na vida ter parado para contar quantos estados tinha o Brasil, não sei. Mas sei que minha humilhação em público não acabou virando piada nacional, para a minha sorte. Mas por possuir uma alma de aluno estudioso por toda a minha vida, até hoje eu lembro desse dia com ódio no coração.

Eu nem sei se o diretor Emanuel morreu, se tá vivo, se está em coma numa cama de hospital respirando por um tubo, mas por mim e por todos os alunos cujo do desespero momentâneo ele se alimentou, eu espero sinceramente que ele arda no mármore do inferno. Não que eu acredite no inferno, é claro.

2 comentários:

  1. Na festa junina da pré-escola minha professora nos obrigou a dançar a quadrilha misturado com ragatanga, além de não ter sobrado meninas na sala e eu ter que dançar com outro menino, ele vomitou em mim... Durante a apresentação :(

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