10 de jun. de 2012

Aquele do miado infernal

Meu namorado mora sozinho e vivia reclamando que não tinha um animalzinho pra lhe fazer companhia, já que eu faço faculdade, moro com meus pais e tenho um blog pra cuidar, então não é sempre que eu posso ficar divando à toa na casa dele. Há um mês atrás ele salvou uma gatinha recém-nascida largada ao relento num dia chuvoso, enfurnada numa caixa dentro do metrô. Tudo era felicidade. As noites frias não eram mais tão solitárias, ele dizia. Estava tudo muito bom.

Uma semana depois a gata acorda morta.

Foi o caos. Ele resolveu fazer velório pra gata, velada em pano branco para simbolizar sua pureza e se despediu dela ao som da marcha fúnebre. Pagou até o filho da vizinha, de dez anos, para mexer na terra e enterrar o caixão no quintal. Tudo requinte.

Daí esses dias eu estava passando a noite na casa dele e um miado infernal que só eu escutava estava me levando a loucura.

Miau miau miau.

"Tá ouvindo?" eu perguntei.

"Ouvindo o quê?"

Miau miau miau.

"Aí, ó! O miado! Tem um gato miando!"

"Não to ouvindo nada."

Passou meia hora, passou uma hora e o a miadeira persistia aos meus ouvidos. Fiz de tudo, desliguei a TV, apontei para onde estava ouvindo os sons. Nada funcionava. Eu estava começando a achar que era o espírito exú da gata que tinha vindo me assombrar.

Mas não, quando finalmente o surdo do meu namorado resolveu ouvir o miado, descobrimos que uma gata nojenta que perambula pelas ruas lá do bairro dele tinha dado cria há um mês e arrastou, olha que lindo, ela arrastou os filhotes pra DENTRO do quintal de casa. Provavelmente porque estava muito frio e chuviscando, normal. Enfim, acabamos adotando uma gatinha filhote pra nós e deixamos a gata levar o resto deles pra rua. E então FINALMENTE eu estava livre do maldito miado.

Como eu estava enganado.

Eu não sei por que gatos cismam em se enfiar em todos os buracos IMPOSSÍVEIS de saírem facilmente. Sabe-se lá como, um dos filhotes se enfurnou no vão MINÚSCULO entre o teto de casa e o telhado. A miadeira, então, persistiu fielmente porque embora somássemos esforços para tirar o gato de dentro do telhado, ninguém conseguia meter a mão lá dentro para agarrá-lo e o filhote simplesmente não conseguia ou não queria sair sozinho. A única opção era esperar a gata maldita atender aos miados intermináveis do filho que saiu de dentro das entranhas DELA e fazer o mínimo para libertá-lo. Responsabilidade materna no reino animal, não vemos por aqui.

Passei mais umas DUAS NOITES com a porra do gato miando no meu ouvido. Nem dormi direito. A gata maldita fazia tudo, comia, dormia, brigava com os cachorros da rua, menos entrar em casa pra tirar o filhote de lá. Depois de um tempo, vimos a bichana se espremer pra dentro do quintal daqui e sumir de vista. No dia seguinte não se ouvia mais miadeira alguma então demos um AMÉM porque o filhote, aparentemente, saiu de onde estava preso. Ou vai ver ele morreu de fome, não sei. Mas se for essa opção devemos ter certeza logo, porque se for, o problema não vai mais ser o miado. Vai ser o fedor de carniça.

Um comentário:

  1. Espíritos de gatos que acordam mortos sempre são assustadores...

    Quando eu tiver minha independência financeira também quero ter alguém pra me fazer compania, vou adotar um garoto indígena e um cachorro vira-lata :P

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