18 de jan. de 2012

Aquele do "seu filho"

Papai tem uma maneira engraçada (ao meu ver) de tratar de coisas sobre mim que não lhe agradam muito. Funciona jogando toda a responsabilidade patriarcal para as costas da minha mãe, como se ele não tivesse feito o trabalho dele há vinte anos atrás produzindo esperma.

Imagino que isso deve ser um procedimento mundial da figura do pai. Ainda mais com aqueles pais religiosos que foram criados pela avó e que tentam fazer os filhos engolirem suas próprias noções do que é ter uma boa vida de bons costumes.

Quero dizer.

Quando eu parei de cortar o cabelo baixinho e papai percebeu que eu realmente estava deixando o black power aflorar, ele disse:

"Pai: MADALENA!! VOCÊ VIU QUE O SEU FILHO ESTÁ DEIXANDO O CABELO CRESCER?"

Quando eu coloquei como papel de parede do meu celular uma foto de um cantor.

"Pai: MADALENA!! VOCÊ VIU QUE O SEU FILHO COLOCOU FOTO DE HOMEM NO CELULAR?"

Quando eu depilei minhas pernas pela primeira vez.

"Pai: MADALENA!! VOCÊ VIU QUE O SEU FILHO DEPILOU AS PERNAS?"

Quando eu furei as orelhas, eu esperava o mesmo comportamento, talvez até mais exagerado. Algo como "Só falta você me aparecer com uma saia aqui". Não que o meu pai precise saber que dentro de mim há uma chama acesíssima que me faz morrer de vontade de comprar uma kilt (saia escocesa), mas o motivo de eu ter feito mãe Madalena prometer que não contaria para papai conservador que o filho nada conservador dele estaria furando as duas orelhas era para eu ver de perto a insatisfação nos olhos dele quando eu chegasse em casa de brincos.

Mas.nenhuma.reação.aconteceu.

E foi aí que caiu a minha ficha. Depois de papai afirmar as suspeitas da sexualidade do filho, nada mais realmente o surpreende.
Me sinto como uma criança de quem tiraram o doce.

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